Não sei se te lembras de que dia foi hoje
Dos sonhos alcoólicos de grandes e-feitos
Das cirroses de nuvens de gomas
Se morreste também algures de ressaca
Tu que sorrias sempre com o fígado
Não sei
Se quando caminhas te lembras
De andarmos descalços sobre os mesmos vidros
As mãos umbilicais e os copos envaidecidos
Se quando caminhas
Nas ruas que hoje foram nossas
E hoje são de ninguém
Ainda saltas ou se te sangram os pés
Se pavimentaste o chão
Como fizeste com o mundo
Se já não vês o quadro
E não te lembras do Zeppelin de chumbo
Que atirámos ajoelhados ao espaço
Algo em mim não quis saber
Que quando florimos no deserto já éramos História
Que da dinamite que dizimou a paixão
Nasceria um peixe-lápis
(Quanto não pode um sinónimo contra um canhão)
E com ele desenharia esta salva de tiros em verso
Para que o teu chão e o teu mundo nunca esqueçam
O que teimas em esconder debaixo da pele
Mas a pele teimará para sempre em te lembrar
Rita Pinho Matos
in FLANZINE # 16 "Pele"
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