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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro 7, 2014

Um desabafo do caraças!

Isto é só para ventilar, não tem necessariamente de ser algo muito importante. Em tempos julguei que escrever coisas bonitas me bastaria para arranjar casamento. E bastou-me, sim. Só mais tarde dei graças ao meu espírito rebelde, por me ter conseguido esta maravilha que ainda dura e cresce. Só que depois, e não tardou muito a ser depois, amaldiçoei-o pelo mesmo motivo. - É que eu não sabia, que andaria ali às voltas, por muitos anos, proibido de dizer o nome daquilo que realmente queria ser. Pode ser que isto ainda me traga algum dissabor, mas os casamentos também têm disto; é um desses mistérios que não surpreendem ninguém: acanhamo-nos de sermos totalmente verdadeiros, fazemos contínuas racionalizações, tentando sentirmo-nos melhor, atirámos vez em quando, uma ou outra mentira piedosa para o ar, no intuito de fazer o outro sentir-se melhor, e tudo para conseguirmos ficar mais próximos da perfeição. E no fim, é inútil, nunca lá chegamos. Até no mais puro dos amores o medo n

O primeiro sorriso do mundo teve bigodes.

Quando o dia começa o aqueduto está quieto e as águas do orvalho paradas. É raro que alguma brisa venha bulir nas folhas dos pequenos ciprestes enfezados. Armam-se, com vagar, as cadeirinhas da esplanada, cheias de esperança. Algum escasso pássaro boceja lá no alto das pedras centenárias, onde as nuvens lentamente se encastelam. O trânsito passa sem ruído, lento e mudo. Um cão pontual, sem trela, defeca na relva húmida, enquanto a dona desperta, a boca escondida entre as mãos. Afasto-me da janela. Recolho-me e recordo a hora quase clara em que os meus olhos se espantam por ver o primeiro sorriso do dia.

Os U2 a darem uma mão.

No total, são onze, dos mais vitais artistas urbanos, por esse mundo fora. Deste nosso rectângulo desconchavado, temos o Alexandre Farto, o artista também conhecido como Vhils , ( eu se fosse ele, lamberia eternamente o chão que os U2 pisam. Mas isto sou eu, que muita gente erradamente considera um lambe-botas sem ética...) que também contribui, e muito bem, para uma colecção visionária de filmes (vídeos), cada um deles inspirado numa faixa do novo album dos U2: " Songs of Innocence ". Atirando-se de unhas e dentes aos murais políticos da Irlanda do Norte, como ponto de referência, e escolhidos a dedo pela sua habilidade na captura das imaginações das suas próprias audiências, a estes artistas, foi concedida total liberdade creativa (coisa rara em tempos ditos globais, mas sempre de mentalidade tacanha, quase hegemónica - são sempre os mesmos que vingam.) para apresentarem as suas próprias respostas à música dos U2, numa série de pequenos filmes, alguns em parte animados

Coisas que muito dizem sobre outras coisas (que nem são para aqui chamdas)

Efeitos Secundários

Cinco e meia da manhã. O homem sai pr'a rua com uma mosca nos sentidos. Tem um andar incerto. Faz zigue-zagues com os olhos. Cai desamparado a todos os quinze passos. Olha – dizem-lhe -  recorda-te sempre de estenderes o que escreves no pátio lá de casa, ou na varanda lá de casa, ou no jardim das traseiras, no quintal lá de casa, no corredor geminado,  estica-as aí, estende-as aí, muito direitas um pouco antes de saires para a rua. Se as fechares em ti, as palavras não ganham altura, ficam rasteiras, miudinhas no escuro,  as palavras ficam incógnitas dentro de ti a ganharem cerume. Depois,  já ninguém as quererá ouvir, e nunca será por nem poderem. O homem bateu três vezes com força na cabeça, e por cada vez que batia,  saía-lhe um sarro castanho-negro  e por cada batida, brotava uma palavra nova e endiabrada. Vês - dizem-lhe -  fechadas, as palavras endurecem-te o ouvido fechadas, as palavras ficam duras precisa