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A mostrar mensagens de outubro 14, 2012

Dia do Poeta

A morte é a melhor saída, quando não há futuro nem fé nem salvação; quando a vida, a nossa vida, se tornou —desde o útero— uma amálgama de utopias, de sonhos e imagens sem corpo; de montanhas que inventamos e escalamos. Sós, tão sós como a companhia que a nós se junta. Certas almas não têm par, já nascem ímpares, desgraçadamente ímpares, mas não imunes... nem inocentes, porque não há inocentes —todos temos alguma culpa, mesmo da culpa que não temos... Não choro mais os mortos, invejo-os, se a morte os veio buscar devagarinho; se os abraçou suave, docemente, como que libertando-os do terrível pecado de estarem vivos nestes tempos de agora; como que tirando-lhes todas as dúvidas, neste flagelo de falta de certezas, só os posso invejar. Morre-se devagar às mãos de inimigos que nunca vemos, que se escondem nos rostos que conhecemos, mas que não nos enfrentam, sorriem apenas, sob máscaras de desculpas. Diz-se que qualquer um pode fazer um poema, mas não pode. 

Agora que morri...

Morri três vezes hoje. Melhor reformular o que tenho para te dizer. Morri TRÊS vezes hoje! Uma foi, quando deixei de te ver, a outra, foi mais longa, uma espécie de morte prolongada, quando fugi da vontade de viver, pela longa estrada arvoreada. Morri três vezes hoje... e a terceira nem foi verdadeira. Foi uma vida fingida, que fez de conta estar terminada. Morri...morri três vezes hoje. Melhor faria em morrer de vez. Que espécie de homem morre por esquecer, O amor da sua amada? Tomara eu ser homem, e morrer de paixão. Morri três mortes hoje, e nenhuma por vocação. Mas que grande disparate, é o que discorre do que sinto, corre o sangue por onde o coração bate, e eu minto, eu minto. Morri três vezes, fica a vida para outro dia, tenho vontade de acertar, quem mais o esperaria, nunca mais me encontrar?

O pior é que andamos todos ao mesmo.

Não receio grande coisa nesta vida. Nem tigres, nem bancos, nem doenças venéreas. O que realmente me suja as cuecas são as pessoas. Casos concretos: Aquela pessoa que nunca deixa passar ninguém à sua frente na fila do supermercado, que bufa, urra e esperneia na ocupação esclarecida do seu lugar, ainda que, a outra, directamente atrás de si, traga somente um sorriso e uma embalagem pré-congelada de comida. Quiçá o jantar daquela noite, e a primeira, transborde o espaço recto da mesma linha com a obesidade do seu carrinho de compras. Sim, isso é o que mais me assusta. Tremo todo sem parar. A debilidade do gesto humano, a fatalidade fúnebre do mero gesto cortês. Por exemplo, quando nada nos impede de deixar entrar mais um carro na fila de trânsito, até estamos a relaxar com aquela musiquinha na rádio, mas não o fazemos, pela mera impunidade de sabermos que podemos. Ou, quando vemos um velho, demasiado cansado destes dias, a tremer, agarrado a um varão, numa carruagem do metro, e nã

Regresso onde nunca estive.

Regresso devagar ao teu sorriso, como quem volta a casa com vontade. Faço de conta que não é nada comigo, mas depois penso melhor: Sou tolo por pensar que não o preciso, e distraído, percorro um caminho que já é só saudade. Pequeninos olhares que negados são mero castigo, e que inflamam a paixão até ao osso da dor. Digo o teu nome em voz alta, como um louco. Como um louco grito-o, pelo sim e pelo não. E o teu nome acende ainda mais o meu desejo, nunca pensei perder-me assim! É um mistério infalível que não apouco. Que atrevimento foi desperdiçar um beijo tão... Ah dane-se! Regresso devagar onde me revejo, num começo sem medo que chegue ao seu fim. Agora já sei que os beijos tem um olhar fulgurante, movendo-se à volta de um fogo que grita gemidos. Talvez seja isto um sonho apenas, nem sei. Fujo do que sei, porque eu nem interesso. Fica. Luminosamente como minha amante, ouvindo-te dentro