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Mensagens

A mostrar mensagens de julho 31, 2011

The Smiths - Girlfriend in a Coma

A propósito da minha recente actividade nas redes sociais... Tantas saudades destes tempos..

É assim que elas se fazem...

Plínio Monteiro sabia que metade da paz doméstica estava em não a desmentir nunca. A outra metade era um exercício precário de compreensão. Não tinham filhos e suportavam esse lapso da natureza sem se recriminarem. Assim ela o julgava pelo menos. Plínio, mais do que tudo, desejava era deixar semente sua neste mundo, mas ela nunca lhe dava arresto a essa vontade, e escapava-se com mezinhas de fala ao jorro impetuoso da sua intenção.

Nevoeiro Amigo

Nem sempre é bom ocultarmos as paixões que nos deslumbram, ainda que nos confundam por vezes com o cariz da sua estranheza. Uma que me encanta particularmente, e à qual nunca consigo dizer que não, é o nevoeiro. A notícia produz, sem grandes variações de caso, uma indiferença total a quem a ouve. Mesmo aqueles que melhor me conhecem hão de pensar com descrédito: Nevoeiro?  O certo é que mal consigo discernir uma explicação ajuizada para tal fenómeno emocional que se despoleta cá dentro. Sempre que o vento do mar o empurra na minha direção, fico agarrado sem remédio, e parto bruscamente para a rua, deixando-me envolver por ele, como se de um manto protetor se tratasse. Não sei, já me seduz desde pequeno, e mesmo sendo incapaz de descrever esta loucura mística por uma mera névoa de humidade, procuro-o sempre, mais até, chego por vezes a ansiá-lo. Talvez seja a lenta litania da ronca que me hipnotiza neste estado de transe, talvez somente revele, um pouco senso atinado

Loucura memorável.

Enquanto no mundo existirem loucos, os sãos serão esquecidos, pois de bom grado ninguém entende, gente que chora em casamentos, ou que ri em funerais, gente que não sabe do que fala, e só se engana no que sente. Enquanto no mundo houverem loucos, serão melhores do que essa gente, mesmo se sejam sem cabelo, ou que ali lhes falte um dente. Será por isso menos pessoa, pela má sorte de ser demente? Não senhor, é certamente gente boa. Enquanto no mundo nascerem loucos, o sorriso correrá livre, e a bondade inquestionável, e a dança será permitida, e as palavras serão poesia. E esses tolos sãos sisudos, cairão burros sem saberem, que a loucura é memorável, e a sanidade doentia.

Anseio o quentinho do Sol

Praia de Porto de Galinhas - Pernambuco (Brasil) Com o tempo que hoje faz, quem me dera agora estar aqui outra vez!

O saco de lona.

Recordo-me claramente de um princípio de tarde como este, tinha doze anos e no céu corriam cabritinhos de nuvens carregados em solavancos imperceptíveis por uma brisa suave. O meu tio tinha uma alfaiataria inclinada de esguelha na encosta do mosteiro, e nessa tarde eu estava lá ao seu lado, enquanto ele fumava estirado no seu cadeirão vermelho de napa, que rangia um gemido estridente a cada movimento. Notava-se que a consciência lhe falhava empurrando-o para a sesta, ainda assim mantinha-se atento de um olho ao que eu fazia. Debatia-me com o atilho embirrento de um nó cego daquele saco de lona que me oferecera antes com promessas afãs de tesouros indescritíveis no seu interior, caso eu o conseguisse abrir, e sentia-lhe aquele olho posto em mim, atento, cioso do resultado final da minha curiosidade.  Eu porém, ávido pelo conteúdo de mistério daquele saco, mais o atava do que propriamente o contrário e a demanda de alguns segundos, arrastava-se já em vários minutos.